Na ONU, Lula critica atuação dos mais ricos no combate às desigualdades sociais
O presidente da república mencionou que "O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade"
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Redação NERO
19/09/23 18:20

O presidente Lula (PT), em seu discurso de abertura na 78ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, relembrou sua presença na Assembleia há 20 anos, quando abordou a questão da fome. O chefe do Executivo fez um paralelo com os dias atuais, destacando que, ao contrário das suas expectativas, “o mundo está cada vez mais desigual”.

Participe do grupo do Nero no WhatsApp

Nesta terça-feira (19), o presidente proferiu um discurso que durou um pouco mais de 21 minutos. Nele, enfatizou a necessidade dos países mais ricos demonstrarem maior responsabilidade social, apontando que “falta vontade política daqueles que governam o mundo”.

“O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade (…) a parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida. Se irá fazer todas as refeições (…) se terá acesso à saúde (…) se completará os estudos e conseguirá um emprego de qualidade, ou se fará parte da legião de desempregados, subempregados e desalentados que não para de crescer. É preciso antes de tudo vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo”, declarou o presidente.

Em outro momento de seu discurso, o presidente destacou a relevância da democracia como instrumento contra a opressão. Ele também afirmou que, com sua vitória nas eleições de 2022, o Brasil estaria pronto para enfrentar os desafios globais, expandindo sua política externa e adotando uma postura mais aberta ao “diálogo respeitoso com todos”.

“A democracia garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão (…) o Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo. Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais. Resgatamos o universalismo da nossa política externa, marcada por diálogo respeitoso com todos”, disse.

Lula não deixou de abordar a temática da Agenda 2030, enfatizando que existe uma grande possibilidade de fracasso caso não haja uma mudança significativa nas práticas ambientais e um foco em acelerar a transição energética. Além disso, salientou que, nos sete anos restantes o objetivo-síntese da Agenda 2030, deveria ser a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades.

“A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento – a Agenda 2030 – pode se transformar no seu maior fracasso. Estamos na metade do período de implementação e ainda distantes das metas definidas. A maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento. O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado. Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria se tornar o objetivo-síntese da Agenda 2030. Reduzir as desigualdades dentro dos países requer incluir os pobres nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio”, sublinhou.

Ao aproximar-se do final de seu discurso, o chefe do Executivo fez uma breve menção à guerra entre Rússia e Ucrânia, condenando veementemente a aplicação de sanções. Lula também considerou inadmissível “o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba” e a tentativa de classificar o país como terrorista, e encerrou o tema deixando claro que seu governo permanecerá crítico em relação a “toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria”.

“A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo (…) a ONU nasceu para ser a casa do entendimento e do diálogo. A comunidade internacional precisa escolher: De um lado, está a ampliação dos conflitos, o aprofundamento das desigualdades e a erosão do Estado de Direito. De outro, a renovação das instituições multilaterais dedicadas à promoção da paz. As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados (…) o Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo. Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria”, concluiu.

Inscreva-se no canal do Nero no Telegram

O presidente chegou a Nova York no último sábado (16) e ficará lá até quinta-feira (21). Durante sua estadia, está programada a participação em reuniões bilaterais, encontros com empresários e na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).