O candidato à presidência da Argentina, o ultradireitista Javier Milei, surpreendeu ao conquistar a vitória nas eleições primárias deste domingo (13), obtendo 30,1% dos votos. Autodeclarado “anarcocapitalista”, Milei redefiniu o cenário político argentino que há anos era dominado pelas principais coligações: a peronista e a direitista, representada por Mauricio Macri. O economista Javier Milei obteve uma vantagem de quase dez pontos sobre o candidato peronista, Sergio Massa, que alcançou 20,9% dos votos, e Patricia Bullrich, com aproximadamente 17%. Apesar de ter obtido um desempenho melhor, a coligação Juntos por el Cambio, liderada por Bullrich e Horacio Rodríguez Larreta, alcançou somente 28,3% dos votos, ficando 2 pontos percentuais abaixo do resultado do ultraliberal.
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Na Argentina, o processo eleitoral pode compreender três etapas:
- As primárias, conhecidas como PASO (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias), contam com a participação de todos os partidos, e os candidatos mais votados avançam para a próxima fase;
- As eleições gerais, agendadas para o dia 22 de outubro, na qual efetivamente o candidato é eleito para o respectivo cargo;
- O segundo turno, que acontece caso não seja atingida a maioria absoluta dos votos nas eleições gerais. Marcado para o dia 19 de novembro, a disputa acontece apenas entre os dois candidatos mais votados da fase anterior.
Os resultados eleitorais tornam cada vez mais incerto o futuro do atual ministro da Economia, Sergio Massa. O peronista foi surpreendido pelo avanço inesperado da direita e extrema-direita na Argentina, um fenômeno que vinha perdendo força nestas últimas semanas. Milei, ao aperceber-se da sua queda na popularidade, reestruturou o seu discurso e lançou um contra-ataque: o candidato colocou em foco os aspectos econômicos negativos do governo de Alberto Fernández. Num país onde a inflação disparou para 115,6% nos últimos 12 meses e cerca de 43,1% da população é considerada pobre, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), o discurso do economista ultraliberal ressoou entre seus apoiadores como a única solução para reequilibrar as contas nacionais. Milei defende o encerramento do Banco Central e a dolarização da Argentina, apresentando-se também como a figura central no combate à corrupção.
O clima, após as primárias, foi de celebração para uns e de melancolia para outros. Enquanto nas sedes de campanha de Massa e de Bullrich/Larreta a sensação era de derrota, o eleitorado de Milei celebrava como se tivesse alcançado a vitória nas eleições gerais. “Presidente! Milei presidente!”, exclamavam em redor da sede da coligação La Libertad Avanza, assim que os primeiros resultados foram revelados.
Por volta das 23:30, horário de Buenos Aires, Javier Milei subiu ao palco para expressar seu agradecimento a todos os presentes. O candidato abriu a sessão gritando, “viva a liberdade, c******”, e prosseguiu declarando estar convicto de que ele era a “verdadeira oposição.
“Uma Argentina diferente é impossível com os mesmos de sempre, com os que vêm fracassando desde sempre”, disse. “Somos uma alternativa que não somente dará fim o kirchnerismo, se não também a toda a casta política parasitária que arruinou este país”, acrescentou.
Os apoiadores de Milei esperam pelo desfecho da corrida eleitoral já no dia 22. Para que isso ocorra serão necessários, no mínimo, 45% dos votos ou 40% desde que acompanhados por uma diferença de 10 pontos percentuais.
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Economista de formação, Javier Milei é contrário ao aborto, que é legal no país desde 2020; defende a liberação do porte de armas; pretende encerrar os ministérios da Educação e do Desenvolvimento Social tal como o Banco Central; quer fazer a mudança do peso argentino para o dólar, como meio de combater a inflação; e acredita ainda que a abertura de um mercado de venda de órgãos, possa vir a ser rentável.
O peronismo triunfou apenas em Buenos Aires, sob a liderança do governador kirchnerista Axel Kicillof. Por outro lado, Milei pode não ter conquistado a capital argentina, porém saiu vencedor em províncias peronistas como Tucumán, Salta, La Rioja e San Juan, bem como nas kirchneristas como Santa Cruz. Além disso, alcançou bons resultados no segundo e terceiro distritos mais populosos do país, Córdoba e Santa Fé, respectivamente.