Número de mortes sobe para 16 em operação da PM na Baixada Santista
Denúncias apontam para indícios de chacina, mas governo de São Paulo afirma que está a atuar com "toda a transparência"
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Redação NERO
02/08/23 17:51

O número oficial de mortes causadas pela atuação da Polícia Militar (PM) em meio à Operação Escudo, na Baixada Santista, subiu para 16. As informações foram divulgadas na manhã desta quarta-feira (2) pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP). A ação, conduzida pela PM de São Paulo, foi deflagrada na última quinta-feira (27), após a morte de um soldado da Rotas Ostensivas Tobias Aguiar (ROTA), e é a mais violenta desde o massacre do Carandiru em 1992, que resultou na morte de 111 detentos.

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O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) assegura que as mortes serão investigadas pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), e a SSP disponibilizará as imagens das câmeras corporais da força policial para averiguação pelo Ministério Público Federal (MPF), pelo Poder Judiciário e ainda pela Corregedoria da PM.

Tanto para o governador como para o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, não se verificaram indícios de tortura ou abuso de poder, por parte dos agentes, e que toda informação contrária trata-se de uma “narrativa”.

“Não passam de narrativas. ‘Olha, o indivíduo foi torturado’. Todos os exames realizados pelo Instituto de Medicina Legal não apontam nenhum co-indício de qualquer singelo hematoma, muito menos de uma tortura de indivíduos que trocaram tiros com os policiais”, afirmou Derrite. “O abuso que está acontecendo é por parte do crime. A polícia vai reagir e tem que reagir, dentro dos limites da lei. Não passam de narrativas, não foi constatado um mínimo abuso por parte das forças policiais”, acrescentou.

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Por outro lado, o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Dimitri Sales, afirma que o assunto não pode ser tratado de forma tão leviana como tem sido feito pelos órgãos do governo de São Paulo.

“Nenhuma denúncia de tortura pode ser desconsiderada, o estado tem o dever de apurar as denúncias que chegam. O papel da Ouvidoria da Polícia e do Condepe é ser o canalizador das denúncias. Você não pode, de pronto, dizer que se trata de uma narrativa como se houvesse uma disputa ideológica ou uma disputa política, nós estamos falando de 14 mortes [até ontem] provocadas não coincidentemente após a morte de um policial”, declarou Sales.

Segundo o presidente do Condepe, o governador vem ignorando as denúncias de maus-tratos e tortura cometidos pela sua polícia nos bairros Vila Zilda e Vila Edna, em Guarujá.

“Os corpos atestam que não tem disputa de narrativa. Há mortes que têm que ser contidas, há uma onda de violência em que policiais também estão sendo alvejados. Me parece que é preciso responsabilizar o governador sobre essas mortes e essa onda de violência”, disse.

Tarcísio de Freitas comentou que o trabalho tem sido executado com “toda a transparência” e enfatizou que os números de mortes divulgados além dos oficiais, devem ser desconsiderados.

“É um monte de gente falando um monte de coisa que não é procedente. Chega um camarada e diz ‘ah, morreram tantas pessoas’, não sabe nem o que aconteceu. ‘Ah, tenho relatos que morreram muito mais pessoas do que estão sendo notificadas’, é falso. É falso, não tem informação correta, não está interpretando corretamente o que está sendo registrado no boletim de ocorrência, nós estamos trabalhando com toda a transparência”, disse o governador.

Sales analisa as falas de Tarcísio com algum ceticismo, pois destaca que, em algumas ocasiões, os números divulgados pela SSP e pela Ouvidoria da Polícia não coincidem.

“Quando ele tenta descredenciar a atuação da ouvidoria, do conselho e dos movimentos sociais, os números que se seguem desmentem o próprio governador. É muito importante que a gente fique atento”

A SSP informou que até o momento foram detidos 58 suspeitos, dos quais 38 foram presos em flagrante. Além das prisões, foram apreendidos 385 quilos de entorpecentes e um total de 18 armas de fogo.