O presidente Lula (PT), em seu discurso de abertura na 78ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, relembrou sua presença na Assembleia há 20 anos, quando abordou a questão da fome. O chefe do Executivo fez um paralelo com os dias atuais, destacando que, ao contrário das suas expectativas, “o mundo está cada vez mais desigual”.
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Nesta terça-feira (19), o presidente proferiu um discurso que durou um pouco mais de 21 minutos. Nele, enfatizou a necessidade dos países mais ricos demonstrarem maior responsabilidade social, apontando que “falta vontade política daqueles que governam o mundo”.
“O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade (…) a parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida. Se irá fazer todas as refeições (…) se terá acesso à saúde (…) se completará os estudos e conseguirá um emprego de qualidade, ou se fará parte da legião de desempregados, subempregados e desalentados que não para de crescer. É preciso antes de tudo vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo”, declarou o presidente.
Em outro momento de seu discurso, o presidente destacou a relevância da democracia como instrumento contra a opressão. Ele também afirmou que, com sua vitória nas eleições de 2022, o Brasil estaria pronto para enfrentar os desafios globais, expandindo sua política externa e adotando uma postura mais aberta ao “diálogo respeitoso com todos”.
“A democracia garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão (…) o Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo. Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais. Resgatamos o universalismo da nossa política externa, marcada por diálogo respeitoso com todos”, disse.
Lula não deixou de abordar a temática da Agenda 2030, enfatizando que existe uma grande possibilidade de fracasso caso não haja uma mudança significativa nas práticas ambientais e um foco em acelerar a transição energética. Além disso, salientou que, nos sete anos restantes o objetivo-síntese da Agenda 2030, deveria ser a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades.
“A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento – a Agenda 2030 – pode se transformar no seu maior fracasso. Estamos na metade do período de implementação e ainda distantes das metas definidas. A maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento. O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado. Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria se tornar o objetivo-síntese da Agenda 2030. Reduzir as desigualdades dentro dos países requer incluir os pobres nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio”, sublinhou.
Ao aproximar-se do final de seu discurso, o chefe do Executivo fez uma breve menção à guerra entre Rússia e Ucrânia, condenando veementemente a aplicação de sanções. Lula também considerou inadmissível “o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba” e a tentativa de classificar o país como terrorista, e encerrou o tema deixando claro que seu governo permanecerá crítico em relação a “toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria”.
“A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo (…) a ONU nasceu para ser a casa do entendimento e do diálogo. A comunidade internacional precisa escolher: De um lado, está a ampliação dos conflitos, o aprofundamento das desigualdades e a erosão do Estado de Direito. De outro, a renovação das instituições multilaterais dedicadas à promoção da paz. As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados (…) o Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo. Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria”, concluiu.
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O presidente chegou a Nova York no último sábado (16) e ficará lá até quinta-feira (21). Durante sua estadia, está programada a participação em reuniões bilaterais, encontros com empresários e na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).