Líder quilombola Mãe Bernadete é assassinada na região metropolitana de Salvador
Seu filho, Jurandir Wellington Pacífico, afirma que sua mãe vinha recebendo ameaças há pelo menos seis anos




Foto: Divulgação/Redes Sociais
Redação NERO
18/08/23 15:42

A líder da comunidade quilombola Pitanga dos Palmares e iyálorìṣa (iyalorixá), Maria Bernadete Pacífico, foi executada na noite desta quinta-feira (17) dentro de uma residência da comunidade quilombola, localizada em Simões Filho, região metropolitana de Salvador. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, informou que a pasta convocará uma reunião extraordinária do Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Racismo Religioso para que sejam tomadas as medidas necessárias pelos ministérios.

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Mãe Bernadete, como era conhecida, estava acompanhada de seus netos, quando dois homens armados, ocultando suas identidades por de trás de capacetes, invadiram o imóvel, trancaram os jovens noutro cômodo da casa, deixando a iyalorixá isolada, a fim de perpetrar o assassinato. Bernadete foi alvejada 14 vezes.

A líder da comunidade e ex-secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que fazia parte de um programa de proteção a testemunhas do Governo da Bahia, estava sob ameaça constante, especialmente após o assassinato de um de seus filhos, Flávio Pacífico dos Santos, em 2017. Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), o caso de Flávio, “assim como de muitas outras lideranças quilombolas, permanece sem respostas e sem justiça”.

Jurandir Wellington Pacífico, filho de Bernadete e irmão de Flávio, declarou ao jornal Folha de São Paulo, que estamos diante de um crime premeditado, e teme enfrentar o mesmo destino.

“Foi um crime de mando, não tem para onde correr. O cara foi pago para executar. Isso é notório, foi um crime de execução. Executaram meu irmão em 2017, agora executaram minha mãe. Isso me faz pensar que eu sou o próximo”, afirmou Jurandir.

De acordo com outras lideranças quilombolas, o Quilombo Pitanga dos Palmares, localizava-se em uma área sujeita à especulação imobiliária, grilagem de terra e disputas políticas. Apesar das ameaças recebidas, destacaram que o governo da Bahia, não apenas deixou de investigar as ameaças, como também não proporcionou a devida proteção aos moradores.

O seu filho, Jurandir, comentou que o trabalho na “comunidade é complicado. Quando você defende a maioria que economicamente falando é minoria, o sistema é cruel”.

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O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) pronunciou-se sobre o caso, na madrugada de hoje (18), em suas redes sociais.

“Recebi com pesar e indignação a notícia do falecimento de Mãe Bernadete, uma amiga e grande liderança quilombola da Bahia. Determinei que as Polícias Militar e Civil desloquem-se de imediato ao local e que sejam firmes na investigação”, escreveu.

A Conaq, em seu site, também partilhou uma nota de repúdio ao assassinato de Mãe Bernadete.

“É com profundo pesar que lamentamos o falecimento de Maria Bernadete Pacífico, a popular Mãe Bernadete, como era carinhosamente conhecida por todas as pessoas. Mãe Bernadete era Coordenadora Nacional da CONAQ e liderança quilombola do Quilombo Pitanga dos Palmares, localizada no município de Simões Filho, estado da Bahia. Sua dedicação incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo será sempre lembrada por nós”, trecho da nota que pode ser lida na íntegra em: https://conaq.org.br/noticias/a-conaq-repudia-o-assassinato-da-coordenadora-nacional-bernadete-pacifico/ .