Delgatti declara à CPMI que Bolsonaro pediu para fraudar as urnas
O hacker esteve presente no Senado Federal nesta quinta-feira para ser ouvido pelos membros da Comissão que investiga os atos golpistas do 8 de janeiro
Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Redação NERO
17/08/23 16:38

Em depoimento nesta quinta-feira (17) perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos de 8 de janeiro de 2023, o hacker Walter Delgatti Neto revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria prometido um indulto caso ele conseguisse fraudar as urnas eletrônicas, de forma a suscitar dúvidas sobre sua inviolabilidade. O plano de Bolsonaro era que o esquema ocorresse durante as celebrações do 7 de setembro de 2022, a menos de um mês do primeiro turno das eleições.

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O hacker afirmou também que o ex-presidente teria pedido que ele assumisse a autoria de um suposto grampo feito ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o qual Delgatti alega que teria “conversas comprometedoras do ministro”.

Delgatti explicou que a informação que lhe foi repassada era a de que “ele [Moraes] já estava grampeado. Já existia o grampo (…), segundo ele [Bolsonaro], naquela data, havia um grampo concluído”. No entanto, afirmou nunca ter tido acesso ao conteúdo do suposto grampo. Apenas havia aceitado o pedido de assumir a autoria em uma ligação telefônica que partiu de Jair Bolsonaro e foi intermediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

Referindo-se à conversa que teve com o ex-presidente, Walter Delgatti relata que lhe foi comunicado que “em troca, eu teria o prometido indulto e ainda disse assim: caso alguém me prenda, eu [Bolsonaro] mando prender o juiz e deu risada”.

Quanto ao pedido de fraudar as urnas eletrônicas, o hacker relata que a proposta surgiu após um convite feito por Zambelli para que ele participasse de uma reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com Duda Lima, o marqueteiro da campanha de Bolsonaro à reeleição, e o próprio Jair Bolsonaro.

Segundo Delgatti, o propósito da conversa era tentar conceber um plano que evidenciasse a possibilidade de fraudar o resultado das urnas. Bolsonaro também teria afirmado que o hacker estaria “salvando o Brasil”, garantindo, assim, o prometido indulto.

“Sim, recebi [proposta de benefício]. Inclusive, a ideia ali era eu receber um indulto do presidente. Ele havia concedido indulto ao deputado [Daniel Silveira] e como eu estava investigado pela [operação] Spoofing, impedido de acessar a internet e trabalhar, eu estava visava esse indulto, que foi oferecido no dia”, declarou Delgatti.

Além disso, o hacker acrescentou que Zambelli teria sugerido que ele administrasse as redes sociais dela e se envolvesse na campanha de Jair Bolsonaro.

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O advogado de Carla Zambelli, Daniel Bialski, divulgou uma nota em que “refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar, inclusive, negando as aleivosias e teratologias mencionadas pelo senhor Walter Delgatti”.

Por sua vez, o ex-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, em defesa do ex-chefe do Executivo, escreveu em suas redes sociais que “nunca houve grampo, nem qualquer atividade ilegal ou não republicana contra qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do presidente”.