Do outro lado do Atlântico, em Portugal, os relatos de discriminação sofrida pelos imigrantes, têm crescido exponencialmente, com um impacto particularmente significativo nas mulheres brasileiras. Palavras como “lixo,” “fáceis,” “putas,” e “essas pretas” são algumas das ofensas frequentemente ouvidas ou enfrentadas por essas mulheres no seu dia a dia. O acesso à “porta de entrada para a Europa” tem se tornado progressivamente mais restrito, onde a cor da pele e diferenças linguísticas tornam-se os principais critérios que determinam a admissão ou não. Segundo dados da Comissão para a Igualdade e Combate à Discriminação Racial de Portugal, as denúncias de xenofobia contra imigrantes brasileiros aumentaram 505% em apenas cinco anos.
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Atualmente, cerca de 240 mil cidadãos brasileiros residem em Portugal, seja através de vistos de residência ou de estudante. No último ano letivo (2022-2023), registrou-se a inscrição de 19 mil brasileiros no sistema de ensino português, abrangendo desde o ensino primário até o ensino superior. Em um país relativamente pequeno, principalmente quando comparado ao Brasil, embora possa parecer um número modesto, ele se mostra significativo dentro das instituições.
O aumento da população brasileira interessada em emigrar para Portugal tem sido impulsionado por diversos fatores, tais como: a segurança e tranquilidade das cidades; o sistema de educação pública de qualidade; o poder de compra e da moeda, o euro; a familiaridade com a língua; a relativa facilidade na obtenção de documentação; e acordos bilaterais entre as nações, como por exemplo o acesso ao ensino superior português por meio das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), entre outros benefícios. No entanto, para os imigrantes, há um aspecto negativo que por vezes pesa tanto quanto todos esses juntos: o preconceito.
De acordo com um relato feito ao Uol para a reportagem “‘Brasileiro é lixo’: com 400 mil imigrantes, xenofobia cresce em Portugal“, publicada nesta sexta-feira (6) em seu website, a alagoana Sergiana dos Santos, que é doutoranda em uma universidade de Lisboa, desde 2020, expõe como os brasileiros são tratados no mercado de trabalho.
Sergiana, apesar de sua qualificação, já trabalhou como faxineira. Atualmente está alocada em um call center de uma empresa, e compartilhou com a jornalista Adriana Negreiros algumas das palavras que já ouviu pelo telefone: “Não quero ser atendido por um brasileiro”, “o que você está fazendo em meu país que não volta para sua terra?” e “não entendo o que você está dizendo; por favor, transfira para alguém que fale minha língua.” Esses são apenas alguns exemplos das ofensas que ela tem que enfrentar durante a rotina de seu trabalho.
Tal como Sergiana, várias outras mulheres vêm denunciando a discriminação, assédio e até agressões físicas que sofrem no exterior. Ao acessar a página no Instagram chamada @brasileirasnaosecalam, é possível observar uma série de denúncias destas mulheres. As denúncias são expostas e contextualizadas para evidenciar a clara barreira que existe entre os imigrantes e os “locais”; com foco especial em Portugal.
Em um postagem feita nesta segunda-feira (2), a página utiliza um recorte de uma notícia do jornal português Público, que tem como manchete “Mosquito que transmite dengue ou Zika detectado em Lisboa, mas não motiva preocupação“, e acrescenta algumas imagens de comentários feitos por baixo da notícia nas redes sociais do jornal. “Quem foi que trouxe essa merd@ pra cá! alô SEF [Serviços de Estrangeiros e Fronteiras] controle de imigração”; “Tamos cansados de receber ‘doenças’.. É k ninguém pediu p vir. Vêm sozinhos.. Nem sequer foram convidados”; “Esses vírus todos.. Não de admirar.. Qq [qualquer] dia para um gajo [gíria portuguesa para rapaz] sair de Portugal, (embora, nós e os outros todos – Q por acaso só vêm por isso – temos um passaporte da união europeia) vamos ter de levar boletim de vacinas, tipo Bíblia.. Ou os outros países nem nos deixam entrar. Mas Portugal, estará sempre de braços e pernas abertas.. Para toda a GALERA.. TÁ LIGADO?”.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, esteve em Portugal no dia 26 de junho deste ano, onde se encontrou com o ministro da Administração Interna de Portugal, José Luís Carneiro. Durante o encontro, Flávio Dino cobrou uma ação mais efetiva por parte do Estado português no combate à xenofobia.
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Embora a imigração tenha se intensificado mais expressivamente a partir de 2016/2017, as relações entre as duas nacionalidades ainda apresentam algumas peculiaridades. É importante destacar que não é possível generalizar e acusar todos os portugueses de serem xenófobos, porém, basta um caso para que se reveja de imediato o modo de conviver com o que nos é alheio.