Advogado de golpista dos atos de 8/1 já foi condenado por violência doméstica
Hery Kattwinkel Junior terá agredido a sua mãe e irmã em novembro de 2016
Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Redação NERO
15/09/23 16:53

O advogado Hery Waldir Kattwinkel Junior, defensor de Thiago de Assis Mathar, um dos réus acusados pelos atos de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes, em Brasília, foi condenado em 2019 por violência doméstica contra a mãe e a irmã.

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Caso de violência doméstica

Segundo a sentença, divulgada pelo jornal A Cidade Votuporanga, Kattwinkel “ofendeu a integridade física de sua genitora e de sua irmã, causando-lhes lesões corporais de natureza leve”. Durante o processo, foram ouvidas as vítimas, as testemunhas de acusação e de defesa além do legislador. A comprovação da materialidade das acusações foi respaldada pelos depoimentos colhidos, pelo Boletim de Ocorrência registrado e pelos laudos periciais apresentados. Vale destacar que as alegações de legítima defesa foram rejeitadas, uma vez que não houve comprovação nos autos de qualquer agressão injusta por parte das vítimas.

O juiz do caso, Maurício José Nogueira, da 2ª Vara Criminal e da Infância e Juventude de Votuporanga, determinou à época, que Kattwinkel cumprisse uma “pena-base de três meses e 15 dias de detenção para cada crime”. Acrescentou também que substituiria “a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, pois o crime foi praticado mediante violência contra as vítimas, o que contraria a disciplina do inciso I do artigo 44 do Código Penal. Faculto ao réu o direito de recorrer em liberdade, pois assim esteve durante toda a instrução probatória”.

Ao concluir, o juiz decide conceder ao advogado o “benefício da suspensão condicional da pena, pelo período de dois anos, estabelecendo-se as seguintes condições: proibição de frequentar determinados lugares, proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz, comparecimento pessoal e obrigatório ao juízo, trimestralmente, para informar e justificar suas atividades”.

O jornal A Cidade Votuporanga obteve o seguinte depoimento de Kattwinkel: “ao contrário do que foi dito que eu tinha espancado a mãe, houveram lesões leves recíprocas. É que em todo momento defendi meu pai! Que o interesse delas era na herança. Estranhamente, seis meses após sair de casa meu pai faleceu. Jamais agredi mãe e irmã, só não deixei que maltratassem meu pai”. Embora tenha recorrido da decisão, o seu pedido foi rejeitado.

Vida política

Hery já exerceu o cargo de vereador pelo município de Votuporanga, e foi candidato à prefeitura pelo PTB em 2020. Em 2022, concorreu ao cargo de deputado estadual pelo Solidariedade, contudo não se elegeu.

Nesta sexta-feira (15) o partido Solidariedade, ao qual se encontrava filiado até então, anunciou, por meio de suas redes sociais, que após a sustentação oral proferida pelo advogado no STF, tomaria a decisão de expulsá-lo de seus quadros.

“O Sr. Hery Waldir Kattwinkel Júnior ocupou a tribuna do Supremo Tribunal Federal para protagonizar um grotesco espetáculo de ataque espetáculo de ataques aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, verbalizando e endossando o discurso de ódio, não raro permeado de fake news, que contaminou parte da sociedade brasileira”, segundo a nota.

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Julgamento no STF

O advogado foi extremamente criticado pelos ministros após a sustentação, e em particular pelo relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes. Kattwinkel, além de comparar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), com a inquisição, cometeu ainda uma gafe literária ao confundir a obra “O Príncipe” de Nicollò Machiavelli com “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry.

“Parece que eu estou diante de uma inquisição, onde os quatro réus já estão ali com a corda no pescoço, só esperando o trabalho do advogado, que falará por alguns minutos, e puxarão a corda que os levará à morte”, declarou Hery Waldir Kattwinkel.

Moraes, durante a leitura do seu voto, rebateu o advogado, comentando que “é patético que um advogado suba à tribuna do Supremo Tribunal Federal com discurso de ódio, com discurso para postar depois nas redes sociais. Talvez pretendendo ser vereador do seu município no ano que vem. Digo com tristeza que o réu que aguarda que ele venha aqui defender tecnicamente. O advogado não analisou nada, absolutamente nada. Preparou um discursinho para postar em redes sociais”.

O ministro referiu também o fato de ter confundido a obra de Machiavelli com a de Saint-Exupéry, pois “são obras que não têm absolutamente nada a ver, mas obviamente, quem não leu nem uma nem outra, vai no Google e às vezes dá algum problema (…) é muito triste isso que ocorreu aqui hoje, presidente”.

No mesmo dia (14), após uma breve suspensão do julgamento, o STF formou maioria para condenar o cliente de Kattwinkel, o réu Thiago de Assis Mathar, a 14 anos de prisão pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de estado, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado.